Linguagem nebulosa


Oficina de escrita e leitura

Outubro de 2022

19h—21h

Via Google Meet


"Eu estou a meio caminho entre o interior e o exterior e o que devo conta, para ser compreensível, é como se torna efectiva uma das hipóteses da passagem."

— Maria Gabriela Llansol.


A oficina “Linguagem nebulosa” propõe exercícios de escrita e leitura a partir de objetos híbridos, aqueles nos quais há junção de imagens e palavras, assim como há imprecisão de gênero — livros cuja etiqueta pode englobar, ao mesmo tempo, ensaio e poema ou ensaio e romance, por exemplo. Tratamos como linguagem nebulosa todo o tipo de material, em texto ou em imagem, cujos começos sejam infinitos. Isto é, objetos artísticos que, quando descritos por meio da fala e da escrita, não alcançam uma integridade.


Uma vez que descrever não dá conta, a hesitação é o que caracteriza o começo.


Esses textos, porque borram fronteiras, são os guias da oficina, que pretende pensar nos seguintes tópicos: as relações entre o que se lê e o que se vê numa página: o trânsito — harmonioso ou não — da imagem à palavra e vice-versa; a adição de camadas ao texto artístico; o suporte da escrita — caderno, celular, computador etc. — como um modulador do trabalho; o texto literário como um espaço intermediário entre as palavras e as coisas; a escrita e a leitura como correlativos.


As escolhas revelam um percurso: “Machado: romance”, de Silviano Santiago, “Parque das Ruínas”, de Marília Garcia, e “Cascas”, de Georges Didi-Huberman, são os textos-guia da oficina. Três livros que têm em comum o uso de imagens, assim como a imprecisão de gênero — ainda que estejam acomodados, respectivamente, na forma romance, poesia e ensaio. A oficina é uma forma de interrogar essas leituras.


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1º aula*: Construção de hipóteses


I A palavra como instrumento para mediar a relação entre sujeitos e imagens e vice-versa;

II A descrição de imagens como uma tarefa infinita;

III A visão como ficção.


— Leituras:

Principal: “Sobre Arte Contemporânea”, de César Aira.

Complementares: “As palavras e as coisas”, Michel Foucault — p. 2—21 [capítulo I];

“Écfrase: 10 aporias”, de Joana Matos Frias.


*Apresentação da proposta de exercício.


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2º aula: Primeiro estudo de caso — "Machado: romance", de Silviano Santiago


I Outras linguagens artísticas como matéria literária;

II O hibridismo como radicalização de um espaço intermediário entre as palavras e as coisas;

III O ensaio como captação e eternização do transitório.


— Leituras:

Principal: “Machado: romance”, de Silviano Santiago — p. 115—155 [capitulo IV. 23 de fevereiro de 1096, dez horas da manhã].

Complementares: “Nas fronteiras da invenção”, de Wander Melo Miranda;

“O ensaio como forma”, de Theodor W. Adorno.


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3ª aula: Segundo estudo de caso — "Parque das ruínas", de Marília Garcia


"Pois não sei se todos aceitarão minha desculpa de que devo ter nisso mais liberdade que os outros porque, justamente, escrevo sobre mim, e sobre meus escritos, sobre minhas outras ações,  já que meu tema se revira sobre si mesmo."

— Montaigne em “Sobre a experiência” (Tradução de Rosa Freire D’Aguiar).


I A especulação e a citação como combustíveis do texto;

II A fotografia como retorno do morto;

III Leitura e escrita como experiências de fantasmagoria.


— Leituras:

Principal: “Parque das Ruínas'', de Marília Garcia.

Complementares: “A câmera clara”, de Roland Barthes — p. 20—22 [fragmento 4];

“Estilo, gênese e exemplaridade”, de Silvina Rodrigues Lopes.


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4ª aula*: Terceiro estudo de caso — "Cascas", de Georges Didi-Huberman


"Todas as imagens vão desaparecer".

— Annie Ernaux em “Os anos” (tradução de Marília Garcia).


I Escrever e fotografar — usos do corpo;

II A memória como instrumento arqueológico;

III O texto como instrumento de transmissão e herança.


— Leituras:

Principal: “Cascas”, de Georges Didi-Huberman.

Complementar: “Escavar e recordar”, de Walter Benjamin.


*Leitura de alguns dos textos produzidos durante a oficina.


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Referências bibliográficas


ADORNO, Theodor W. “O ensaio como forma”. In: ______, ______. Notas de Literatura I. Tradução de Jorge M. B. de Almeida. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2012.

AIRA, César. Sobre a Arte Contemporânea. Tradução de Victor da Rosa. Dinamarca: Zazie Edições, 2018.

BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Tradução de Julio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

BENJAMIN, Walter. “Escavar e recordar”. In: ______, ______. Imagens de pensamento: Sobre o haxixe e outras drogas. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2015.

DIDI-HUBERMAN, Georges. Cascas. Tradução de André Telles. São Paulo: Editora 34, 2017.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Tradução de Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

GARCIA, Marília. Parque das Ruínas. São Paulo: Luna Parque, 2018.

LOPES, Silvina Rodrigues. “Estilo, génese e exemplaridade”. In: ______, ______. A anomalia poética. Belo Horizonte: Chão da Feira, 2019.

MATOS FRIAS, J. Écfrase: 10 aporias. eLyra: Revista da Rede Internacional Lyracompoetics, [S. l.], n. 8, 2016. Disponível em: <https://www.elyra.org/index.php/elyra/article/view/150>. Acesso em: 4 jul. 2022.

MELO MIRANDA, Wander. Nas fronteiras da invenção. Biblioteca Pública do Paraná, Curitiba. Disponível em: <https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Ensaio-Wander-Melo-Miranda>. Acesso em: 4 jul. 2022.

SANTIAGO, Silviano. Machado: romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.